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12 de nov. de 2015

Medicina Chinesa e Bem Estar


Bem estar, saúde, longevidade e felicidade são eternos objetivos que buscamos conquistar em nossas vidas. São temas que vendem revistas, que chamam a atenção em programas televisivos e que, graças a este interesse, são constantemente revisitados em pesquisas acadêmicas. Nunca se buscou tanto ser feliz e saudável, ao mesmo tempo em que o ser humano nunca pareceu estar tão longe destes estados.

No mundo atual, a grande preocupação de todas as pessoas têm sido a segurança e estabilidade financeira. Evidentemente que esta também deve ser uma meta de todos nós, mas quando a preocupação com perdas e ganhos materiais começa a prejudicar a saúde, devemos nos questionar quais são nossas verdadeiras prioridades e como, de fato, queremos viver a vida. Há um ditado chinês que diz: “pessoas que usam suas vidas para ganhar dinheiro até os 40 anos terão de trocar seu dinheiro por suas vidas após os 40 anos”. Será que queremos nos encaixar nesta máxima?

Existe um tipo bastante comum de paciente nos consultórios de Acupuntura e de Medicina Chinesa; são pessoas que não se sentem bem, apresentam queixas e sintomas físicos e emocionais que os levaram a buscar tratamentos convencionais, sem que o sucesso houvesse sido encontrado nos diagnósticos possíveis e tratamentos prescritos. Em resumo, são pessoas que, apesar de não possuírem nenhuma “doença” específica, tampouco se sentem saudáveis. Na grande maioria das vezes, após a adoção de prescrições alimentares, tratamento com agulhas, moxibustão ou ervas, práticas como o Qi Gong e a meditação, estes mesmos pacientes relatam sentir-se melhor, com diminuição significativa dos sintomas que antes tanto os incomodavam.
Este tipo de paciente representa um grande desafio aos profissionais de medicina tradicional ocidental, pois não se encaixam nem na categoria de “doentes”, mas também são podem ser considerados “saudáveis”. O mais correto seria dizer que estas pessoas vivem em um estado de “sub-saúde”, categoria esta que não encontra ressonância no sistema básico de saúde, quase que exclusivamente centrado em consertar problemas – ou, no caso, curar doenças. Um risco muito grande que existe, nestes casos, é o fato de que estes pacientes encontram alívio temporário dos sintomas através do uso de medicações alopáticas paliativas (como estabilizadores de humor ou analgésicos, por exemplo), acarretando a possibilidade de desenvolverem, eventualmente, até mesmo dependência física ou psicológica destas substâncias.
Do ponto de vista dos hospitais terem se transformado em grandes “centros de reparação de estragos”, e da concepção da saúde como o estado de ausência de doenças, qual o lugar que existe atualmente para questões referentes à “simples” sensação de bem-estar, verdadeira saúde, longevidade e felicidade?

Medicina Chinesa: uma visão holística
O Huangdi Neijing (Clássico do Imperador Amarelo), uma das principais obras da Medicina Tradicional Chinesa, traz logo no início a seguinte pergunta, feita pelo Imperador Amarelo, ao sábio Qibo, seu conselheiro: “Me disseram que os antigos chegavam a viver mais de 100 anos e seus corpos e movimentos pareciam não envelhecer. Hoje em dia as pessoas mal passam dos 50 anos e se tornam fracos e se movimentam com dificuldade. Isto acontece porque o mundo mudou ou porque as pessoas não sabem mais como conservar suas vidas?”. A resposta recebida pelo Imperador Amarelo ainda é válida nos dias de hoje; Qibo respondeu-lhe: “Os antigos que praticavam o Dao, sabiam como se adaptar às leis de Yin e Yang e seguiam os caminhos para nutrir suas vidas. Eles comiam moderadamente, dormiam regularmente e evitavam o trabalho excessivo e também os excessos na vida sexual. Desta forma, seus corpos e espíritos floresciam. Eles viviam os anos que lhes eram concedidos pelos céus e morriam depois de 100 anos de idade”.
Oras, nem o Céu e nem a Terra em que nossos antepassados viviam mudaram: ainda temos quatro estações no ano, o sol ainda nasce e se põe todos os dias, a lua nasce, cresce, míngua e desaparece, e por aí vai. Mas os homens mudaram. Nossos hábitos e estilo de vida mudaram radicalmente: nossos desejos por determinados alimentos (e a grande oferta dos industrializados), pelo sexo, nossas vestimentas, casas e automóveis vem se tornando cada vez mais fortes e importantes. Nos afastamos cada vez mais dos seres humanos que éramos no passado, e que viviam em conformidade com a natureza e suas necessidades e possibilidades. Alteramos nosso funcionamento, e o resultado disso é o estresse do corpo, da mente e do espírito. Vivemos em desequilíbrio. Se fôssemos capazes de viver de acordo com as leis de Yin e Yang e seguíssemos o caminho de nutrir nossas vidas, como pregou Qibo há mais de 2 mil anos, talvez voltássemos a viver tanto quanto nossos antepassados viviam. E mais do que quantidade de vida, teríamos maior qualidade de vida.

A Medicina Tradicional Chinesa possui duas características principais que permitem que esteja mais próxima de uma prática médica cujo foco é o bem-estar, e não a ausência de doenças. A primeira delas é o princípio de Holismo, em que o todo e a parte se misturam o tempo todo. Da mesma forma que existe o universo, existe o corpo humano. Da mesma forma que existem as galáxias, existem os sistemas do corpo. Da mesma forma que existem os sistemas solares, existem os órgãos do corpo. E da mesma forma que existem os planetas, que formam os sistemas solares, existem as células que formas estes órgãos. E assim como existem todas as formas de vida no planeta Terra, existem todas as estruturas dentro das células. E assim se segue, em um processo infinito de parte e todo; o ser humano é apenas uma forma de vida de um pequeno planeta de um dos sistemas solares de uma das inúmeras galáxias que existem no universo, mas ao mesmo tempo é senhor do seu universo, seu corpo, e de todos os sistemas que existem neste universo.

Entretanto, da mesma forma que o Universo é bem mais do que a simples soma de galáxias e sistemas solares e planetas e formas de vida, o ser humano é muito mais do que a soma de células. Existem leis que regem estes todos, e o ser humano está sujeito, como parte do Universo, a todas as leis que regem o Universo. A Física vem tentando desvendar e aplicar algumas destas leis, e algumas já são nossas velhas conhecidas: a lei da gravidade, da inércia, da ação e reação são apenas as mais conhecidas delas. O Homem, como parte do Universo, está sujeito a estas mesmas leis, e uma delas, em específico, está intimamente relacionada com os processos de adoecimento e de perda de qualidade de vida na ótica médica chinesa: a lei da ação e reação; afinal, poucas são as doenças que nos acometem sem que tenhamos um comportamento que foi fundamental no desencadeamento do adoecimento. A contaminação por vírus, ou bactérias, as grandes epidemias que matam centenas de milhares de pessoas poderiam ser caracterizadas como doenças que invadem o nosso corpo sem que tenhamos feito alguma coisa para que colhamos este estado doentio como consequência de nossos atos. Mas até mesmo nestes casos, o que justifica que determinadas pessoas entrem em contato com vírus ou demais agentes patogênicos externos e não adoeçam, enquanto outras caem mortas em pouquíssimo tempo?

Este questionamento nos leva a segunda característica fundamental da Medicina Tradicional Chinesa, que é o princípio da Diferenciação de Síndromes. As Síndromes são muito mais do que doenças. De acordo com o dicionário, as síndromes são o conjunto agregado de sinais e sintomas que permitem a determinação de uma condição específica; síndrome não é doença, e sim uma condição médica. A Medicina Chinesa se utiliza da diferenciação de síndromes para compreender as tendências que determinada pessoa apresenta, sendo a síndrome compreendida como um estado de desarmonia que propicia que determinadas patologias se desenvolvam. De acordo com dados específicos colhidos durante o interrogatório diagnóstico e observados pelo médico no momento da consulta, pode-se prever qual a tendência de adoecimento de determinada pessoa, quais são os seus sistemas mais frágeis e, diante desta compreensão, pode-se atuar na prevenção de estados patológicos mais graves que podem se estabelecer no futuro. 

Em outras palavras, pode-se reequilibrar o sistema antes que ele se apresente falhando por completo.
Estas características permitem que uma infinidade de pacientes que não se sentem bem mas, tampouco, estejam especificamente doentes, encontrem acolhimento nos consultórios de profissionais que enxergam os processos de saúde e doença de acordo com esta ótica holística e integrativa. O diagnóstico é feito levando em consideração sinais e sintomas nem sempre relacionados com a queixa específica trazida pelo paciente (afinal, qual seria, intuitivamente, a relação entre constipação intestinal e pele seca com a ansiedade?). O profissional não terá como objetivo a remoção de um sintoma específico, e sim o restabelecimento do equilíbrio perdido que levou ao surgimento deste sintoma.

Para isso, existe uma infinidade de ferramentas que poderão ser utilizadas. A Acupuntura, a Moxibustão, o uso de Ervas, a Meditação e o Qi Gong, exercícios de visualização, utilização de cores específicas no tratamento de determinados casos, exercícios físicos e prescrições alimentares e a mudança de simples hábitos de vida são apenas alguns exemplos do que pode ser empregado na busca de uma maior harmonia do sistema.

Felizmente, a abertura da China para o ocidente das últimas décadas vem permitindo que suas ferramentas médicas sejam devidamente testadas e comprovadas cientificamente pela comunidade médica ocidental. Os últimos estudos sobre meditação comprovam o que os praticantes relatam há séculos: uma alteração mensurável em zonas cerebrais específicas relacionadas à empatia, atenção e percepção de si mesmo. Estes estudos conferem legitimilidade científica à técnicas que, até pouco tempo atrás, eram consideradas “alternativas” e que, agora, vêm ocupando o posto de “complementares”.

De um modo ou de outro, a Medicina Tradicional Chinesa é uma ótima ferramenta para aqueles que buscam uma maior qualidade de vida, bem estar, equilíbrio e harmonia. Para se beneficiar dela não é preciso que apresente uma doença em específico, que o sofrimento tenha dominado completamente a sua vida, ou que demais tratamentos considerados tradicionais tenham falhado: basta que se tenha perdido a incrível capacidade de sentir-se bem dentro de seu próprio corpo, de sua própria vida – de seu próprio Universo.
E você, como anda se sentindo em relação a si mesmo?

Fonte: Flávia Melissa

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